Ilza C M Sousa
Encerrar uma peregrinação de 134 km é uma experiência carregada de sentimentos profundos e, muitas vezes, contraditórios. O corpo pode estar exausto — os pés marcados pelas bolhas, os músculos tensos, o rosto queimado de sol — mas o coração, esse costuma estar leve, pleno e agradecido. Cada passo dado ao longo do caminho carrega uma história, uma superação, uma conversa silenciosa com o próprio íntimo.
Ao chegar ao destino, há um silêncio que fala alto. Uma mistura de alívio e saudade: alívio por ter conseguido, por ter vencido o cansaço, o desânimo, o clima, as dúvidas internas. Saudade do caminho, das paisagens que se transformavam aos poucos, das pessoas desconhecidas que se tornaram companheiras de jornada, dos momentos de reflexão solitária sob o céu aberto.
Encerrar a caminhada é, também, um renascimento. Algo dentro muda. O peregrino que chegou ao ponto final não é o mesmo que deu o primeiro passo. A bagagem interior se enche de aprendizados: sobre o tempo, sobre os limites, sobre o que realmente importa. Há gratidão — por ter tido saúde, coragem, por cada ajuda recebida, por cada pequena beleza percebida no meio da simplicidade.
E quando se tira as botas e se contempla o destino alcançado, vem a lágrima silenciosa, o sorriso contido, a certeza de que, mesmo que a jornada tenha acabado, o caminho continua — agora, dentro de si.